28 de julho de 2009

Memórias de um Prêmio Nobel

Canetti, E. A Língua Absolvida, Histórias de uma juventude; tradução Kurt Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

Nascido em 1905 em Ruschuk, pequeno porto búlgaro próximo ao rio Danúbio, filho de judeus sefardins, doutorado em Química pela Universidade de Viena, em 1929, Elias Canetti ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1981, com a obra Massa e Poder (1961). Aos 25 anos fez sua primeira publicação, mas somente nos anos 60 seu trabalho foi notado pela crítica. Sua primeira obra foi uma peça teatral em versos, Junius Brutus, produzida entre 1916 e 1921 durante os estudos em Zurique.

Novelista, ensaísta, sociólogo e teatrólogo, além da obra que lhe rendeu o Prêmio Nobel, Canetti publicou títulos como Auto da fé (1935), A consciência das palavras (1990), Vozes de Marrakech (1987) e sua autobiografia, composta de três volumes que totalizam 840 páginas: A Língua Absolvida (1980); Uma Luz no meu Ouvido (1989); O Jogo de Olhos (1990).

No primeiro volume das memórias, A Língua Absolvida, o escritor relata o período que vai de seu nascimento ao fim da adolescência em Zurique, na Suíça - 1905 a 1921. Canetti descreve a peregrinação com a família pela Europa arrasada pela Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918) – período em que se mudou quatro vezes.
Um ano antes de seu pai morrer, a família mudou para Manchester, onde o menino aprendeu inglês. Com a dura morte do pai, sua mãe seguiu com os filhos para Viena. Em 1916 mudou para a Suíça e de lá Canetti foi para Berlim, onde concluiu a escola.

As memórias são registradas com tamanha riqueza de detalhes que começa no título e narra um episódio envolvendo o namorado da babá, que ameaçou cortar sua língua como forma de fazê-lo calar. Elias Canetti registra acontecimentos e pessoas que marcaram sua vida, as conversas com os desenhos do papel de parede, os livros que ganhava do pai, o avô que falava 17 línguas, o duro aprendizado de alemão com a mãe, as tensões familiares geradas pelo ciúme que cultivava da mãe e o desenvolvimento da consciência literária.

Mas nem tudo foi difícil para o menino que aos 16 anos falava quatro idiomas, tinha contato com mais seis línguas e universos culturais variados. Seu maior prazer nos momentos livres, durante esses primeiros anos de vida, eram os saraus de leituras que fazia com a mãe, onde teve contato com grandes escritores da literatura.

A leitura de A Língua Absolvida é agradável e não necessita de conhecimentos prévios para entendê-la. Indicado ao público em geral e, em especial, aqueles que têm o desejo de escrever e de se autonarrar, a obra marca experiências pessoais, estimulando a lembrança de fatos, experiências de vida e formação do leitor.

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