23 de janeiro de 2014

Reencontro com o eu criança

Ontem conversava com um amigo poeta e entre muitos assuntos surgiu Manoel de Barros. Logo recordei que na época do cursinho (pouco menos de 10 anos atrás) eu comprei um livro diferente, cujas folhas eram soltas e a capa era uma caixinha de papel pardo. Fui na minha estante e eis que lá estava ele me esperando para um novo encontro.

Confesso que não sou uma grande fã de poesia, mas tenho meus momentos de aproximação e afastamento. Algumas vezes me forço a tentar entender pelo menos um pouquinho do que queriam nos dizer esses grandes seres. E aqui estou outra vez com "Memórias inventadas, A segunda infância", de Manoel de Barros, nas mãos.

Logo na primeira página, onde Manoel descreve Manoel, me identifico com o autor que diz que, na infância, ao invés de peraltagem fazia solidão. Me fez recordar quando eu tinha uns sete anos de idade. Meus pais moravam numa cidade tão pequena que não consegui encontrar no Google o número de habitantes que hoje vive nela.

Na época meus irmãos maiores (todos adolescentes) já tinham responsabilidades (todos começamos a trabalhar bem cedo para ajudar meus pais) e minha irmã caçula era apenas um bebê. Como não tinha com quem brincar, nem bonecas ou qualquer outro brinquedo, eu fingia que as espigas de milho eram minhas amigas e companheiras.

Costumava brincar entre as plantações dos meus pais. Fazia casinhas imaginárias entre os pés de mandioca, milho ou debaixo de qualquer árvore que oferecesse uma sombra agradável e um terreno plano. A natureza era o cenário diariamente.

Tenho poucas memórias dessa época. Gostaria de lembrar mais. Tentei resgatar pedaços de mim criança nessa viagem que fiz pra casa em dezembro, mas minha mãe diz não ter boa memória. Me pergunto se sua memória talvez possa ter apagado boa parte de nossa história por causa de todo o sofrimento que passou vivendo uma vida tão dura por tantos anos. Mas seja como for, passado é o que ficou pra trás e nós não somos o nosso passado mas o resultado dele. Resgatar pedaços da nossa história é, como dizem poetas e filósofos, tentar se renovar.

"Eu vivi antigamente com Sócrates, Platão, Aristóteles - esse pessoal. Eles falavam nas aulas: Quem se aproxima das origens se renova." - Manoel de Barros


Nenhum comentário:

Arquivo do blog